sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Começamos a chegar a marés de balanços, não é?

Eu pelo menos, começo. Balanços não apenas deste ano, mas destes 3 anos e meio que estive por terras de Lisboa.
Posso dizer que valeu a pena. Não é uma ótima conclusão?

Por ti, Silvina, recorto estas palavras

"O lugar onde, até hoje, senti mais orgulho em ser pessoa foi o Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria, onde a elegância dos doentes os transforma em reis. Numa das últimas vezes que lá fui encontrei um homem que conheço há muitos anos. Estava tão magro que demorei a perceber quem era. Disse-me
- Abrace-me porque é o último abraço que me dá
durante o abraço
- Tenho muita pena de não acabar a tese de doutoramento
e, ao afastarmo-nos, sorriu. Nunca vi um sorriso com tanta dor entre parêntesis, nunca imaginei que fosse tão bonito.
Com o meu corpo contra o dele veio-me à cabeça, instantâneo, o fragmento de um poema do meu amigo Alexandre O'Neill, que diz que apenas entre os homens, e por eles, vale a pena viver. E descobri-me cheio de respeito e amor. Um rapaz, de cerca de vinte anos, que fazia quimioterapia ao pé de mim, numa determinação tranquila:
- Estou aqui para lutar
e, por estranho que pareça, havia alegria em cada gesto seu. Achei nele o medo também, mais do que o medo, o terror e, ao mesmo tempo que o terror, a coragem e a esperança.
A extraordinária delicadeza e atenção dos médicos, dos enfermeiros, comoveu-me. Tropecei no desespero, no malestar físico, na presença da morte, na surpresa da dor, na horrível solidão da proximidade do fim, que se me afigura de uma injustiça intolerável. Não fomos feitos para isto, fomos feitos para a vida. O cabelo cresce-me de novo, acho-me, fisicamente, como antes, estou a acabar o livro e o meu pensamento desvia-se constantemente para a voz de um homem no meu ouvido
- Acabar a tese de doutoramento, acabar a tese de doutoramento, acabar a tese de doutoramento
porque não aceito a aceitação, porque não aceito a crueldade, porque não aceito que destruam companheiros. A rapariga com a peruca no braço da cadeira. O senhor que não olhava para ninguém, olhava para o vazio. Ali, na sala de quimioterapia, jamais escutei um gemido, jamais vi uma lágrima. Somente feições sérias, de uma seriedade que não topei em mais parte alguma, rostos com o mundo inteiro em cada prega, traços esculpidos a fogo na pele. Vi morrer gente quando era médico, vi morrer gente na guerra, e continuo sem compreender. Isso eu sei que não compreenderei. Que me espanta. Que me faz zangar. Abrace-me porque é o último abraço que me dá: é uma frase que se entenda, esta? Morreu há muito pouco tempo. Foda-se. Perdoem esta palavra mas é a única que me sai. Foda-se. Quando eu era pequeno ninguém morria. Porque carga de água se morre agora, pelo simples facto de eu ter crescido? Morra um homem fique fama, declaravam os contrabandistas da raia. Se tivermos sorte alguém se lembrará de nós com saudade. De mim ficarão os livros. E depois? Tolstoi, no seu diário: sou o melhor; e depois? E depois nada porque a fama é nada.
O que é muito mais do que nada são estas criaturas feridas, a recordação profundamente lancinante de uma peruca de mulher num braço de cadeira. Se eu estivesse ali sozinho, sem ninguém a ver-me, acariciava uma daquelas madeixas horas sem fim. No termo das sessões de quimioterapia as pessoas vão-se embora. Ao desaparecerem na porta penso: o que farão agora? E apetece-me ir com eles, impedir que lhes façam mal:
- Abrace-me porque talvez não seja o último abraço que me dá.
Ao M. foi. E pode afigurar-se estranho mas ainda o trago na pele. Durante quanto tempo vou ficar com ele tatuado? O lugar onde, até hoje, senti mais orgulho em ser pessoa foi o Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria onde a dignidade dos escravos da doença os transforma em gigantes, onde só existem, nas palavras do Luís, Heróis.
Onde só existem Heróis. Não estou doente agora. Não sei se voltarei a estar. Se voltar a estar, embora não chegue aos calcanhares de herói algum, espero comportar-me como um homem. Oxalá o consiga. Como escreveu Torga o destino destina mas o resto é comigo. E é. Muito boa tarde a todos e as melhoras: é assim que se despedem no Serviço de Oncologia. Muito boa tarde a todos e até já, mesmo que seja o último abraço que damos.
(António Lobo Antunes)

Silvina: http://episodiosderadio.blogs.sapo.pt/

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

E o que se faz por aí?

Por aqui, vai se correndo.
Na minha casa nem se nota que é quase natal, não foram as prendas já embrulhadas que por aí andam. É a única 'decoração' que fiz. Afinal com uma casa a mostrar os primeiros sinais das mudanças, não apetece acrescentar nada à tralha que se vê um pouco por todo o lado.
Estamos felizes com a perspetiva de passar o próximo Natal em nossa casa. A casa onde passámos o primeiro Natal juntos.
Lembro-me como se fosse ontem. Ainda não morávamos juntos nessa altura e cada um ia passar o Natal com os respetivos pais. Então, para termos o nosso Natal, antecipámos as coisas. Decorámos a casa e fiz uma consoada só para dois, com um frango recheado à perú de natal, formigos, aletria, e outros que tais. E foi, até agora, o meu natal favorito de sempre. O mais nosso, mais especial, sem stresses nem correrias, e muito cheio de sentimento.
Este ano vamos ter outro natal. Um cheio de corridas, a viajar entre, Lisboa, Lousã, Espinho e Braga com mudanças à mistura. Vai ser um Natal sem tempo para sentir, mas pelo menos será um processo, uma promessa.

E por aí, como estão?

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Boas notícias

Finalmente, a minha situação quanto ao local de trabalho definiu-se.
Já há muito tempo que estava a tentar de forma mais formal ou mais informal regressar ao Norte, pedindo para fazer parte do meu trabalho num polo que a minha instituição tem no Porto. Soube esta semana que esse pedido foi aprovado!
O meu marido está agora a tentar ver com a empresa dele qual é a melhor altura para fazermos a mudança, mas se tudo correr bem, apontamos para fevereiro. Ou seja, não tarda nada voltamos para casa. Não tarda nada volto a morar na minha casa, em Braga, e deixo de pagar renda por uma casa que foi sempre sentida como provisória.
Vai ser uma grande mudança outra vez. Uma mudança de vida, além da mudança física. Mas desta vez, vamos para casa.