segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Porque se deve organizar um «baby shower» a uma mãe adotiva?

Como já disse aqui, tenho encontrado nos blogues sobre adoção muita informação útil, mas sobretudo muitas vivências e experiências ricas e complexas.

O blogue Ripped Jeans and Bifocals é um daqueles de que me tornei fã. É uma experiência radicalmente diferente da minha: um casal de meia idade, com uma filha biológica crescida, que adotou internacionalmente duas crianças. Ah, isto tudo nos EUA, onde as coisas são bastante diferentes.
Mas apesar desse contexto tão diferente, fiquei «colada» no blogue, pela honestidade da autora, que nos conta o bom, o mau e o feio da sua experiência, mantendo uma pitada de humor. Foi aqui que li, pela primeira vez, sobre a depressão pós-adoção, por exemplo. Ou sobre a dificuldade em estabelecer uma relação de vinculação, contada na primeira pessoa e sem filtros. Recomendo vivamente.
E este post, além de vos recomendar este blogue no geral, tem como pretexto um post particular. Um post recente: este.

E além das aparências, este post fala da forma como a sociedade responde de formas diferenciadas à parentalidade adotiva e biológica. E de como isso pode magoar.

Aqui fica um excerto:
«Right after (and I mean right after) our first son came home from China, a woman in my community asked me to help organize meals for a new mom (This went over like a fart in church). There had been exactly zero meals brought to our door when we arrived home the week before (yes, the week before) with a freaked out two-year old.»
«It’s not about presents or cake (although I really love cake.) It’s about recognition of a milestone and celebrating families. (...)Think about this next time a friend announces she’s adopting: adoption is deliberate. The sheer amount of paperwork boggles the mind. If you’re teetering on the brink of crazy, this will drive you over. Adoption is usually a “shout from the rooftops” kind of big deal; treat it that way. Ask how things are going. Questions like “do you really know what you’re getting in to?” don’t count.
Don’t point out how lucky she is to keep her figure (besides, the tales I could tell about pre-adoption stress eating are epic). You might not know what road someone traveled to get to adoption. Maybe you’re saying “poo, you’re doing it the easy way” to someone who thinks doing the deed and incubating for nine months is an easier option.
Don’t assume a family who is adopting doesn’t want a celebration, even if the child isn’t a newborn. A child joining a family that will love them FOREVER is cause for some cake. Maybe even a balloon or two.»

Em tradução livre:

«Logo depois (mesmo logo depois) de o nosso primeiro filho ter chegado a casa, vindo da China, uma mulher da minha comunidade pediu-me que ajudasse a organizar refeições para uma recém-mãe (isto caiu como «um peido na missa»). Tinham-me sido trazidas exatamente zero refeições na semana anterior, quando nós chegámos a casa (sim, tínhamos chegado na semana anterior) com um bebé de dois anos assustadíssimo.
(...)
Não tem a ver com os presentes ou o bolo (embora eu realmente adore bolo). Tem a ver com o reconhecimento de um marco importante e a celebração das famílias. (...)
Pense nisso da próxima vez que uma amiga anunciar que vai adotar: a adoção é deliberada. A quantidade de papelada dá a volta à cabeça. Se estiverem no limite da loucura, isto vai fazer-vos passar para o outro lado. A adoção é uma coisa muitíssimo importante: trate-a dessa maneira. Pergunte como estão a ir as coisas. Perguntas como «Sabes mesmo no que te estás a meter?» não contam.
Não digam que essa amiga tem sorte por poder manter a sua linha (além disso, podia contar-vos histórias épocas sobre o stress pré-adoção e a comida). Pode não saber que caminho alguém percorreu para chegar até à adoção. Talvez esteja a dizer que está a escolher o caminho mais fácil a alguém que acha que ter sexo e ficar grávida durante 9 meses teria sido uma opção mais fácil.
Não parta do pressuposto que uma família que adota não quer uma celebração, mesmo que a criança não seja um recém-nascido. Uma criança a juntar-se a uma família que vai amá-la para sempre é motivo para comer bolo. Talvez até para um balão ou dois».

Vão lá espreitar ;)
http://rippedjeansandbifocals.com/

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Medos



Ando para aqui preocupada com a possibilidade de não sermos aprovados como candidatos a pais adotivos. Ia ficar feita num 8, agora que estou cada vez mais empenhada e entusiasmada com esta perspetiva.
Mas na verdade, eu sei lá...
Somos um casal com um casamento feliz e equilibrado. Acho que queremos adotar pelas razões certas e temos uma visão positiva da adoção. Estamos realistas face ao processo e esforçamo-nos por nos informar. Temos condições económicas e habitacionais boas.
Por outro lado, ninguém é perfeito. Eu não sou do tipo «mamã». Não sonhei ser mãe a minha vida toda - ainda agora tenho uma perspetiva pouco cor de rosa sobre a parentalidade e pouca experiência e à-vontade natural com crianças. Isso não quer dizer que agora, depois de todo o longo processo que tem sido amadurecer estas ideias, não queira ser mãe. Ser mãe é uma escolha muito consciente para mim - não é uma inevitabilidade. Mas uma escolha séria, provavelmente a mais séria de todas, e perante a qual estou fortemente comprometida e implicada. Isso é mais racional do que emocional, sim. Emocionalmente tenho um medo do caraças! Mas é o que é, e não acho que seja pior do que o contrário, para dizer a verdade, e que conto com o apoio do meu marido, que é super afetivo e fofo e papázão e confio que juntos sejamos capazes desta aventura - senão, não me metia nela. O problema é que estamos a ser avaliados, e não escondi nada disto. Acho que devo ser verdadeira e transparente, ainda para mais num processo tão importante. E não sei como é que este processo todo passa para o lado de lá, nem até que ponto será um obstáculo a que nos aprovem.
E é complicado estar aqui à espera, sem saber se será um sim, ou um não outra vez. O percurso da infertilidade habituou-nos a muitos nãos, mas não lhes retirou o sabor amargo - pelo contrário. Este seria o não final, e seria muito duro. Custa até pensar nessa possibilidade.
Estou a apaixonar-me pela ideia de adotar, e tenho medo de não ser correspondida. É um medo «do caraças», garanto.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Mas um dia, mais uma novidade


Formação B agendada. Daqui a duas semanas, mais coisa menos coisa, teremos mais um passo dado!

Atualizei o ticker



Então, e porquê?
Porque fiquei a saber, em conversa com outro casal candidato à adoção que o nosso tempo de espera oficial começa a partir do dia em que entregámos os papéis da candidatura. No nosso caso, 1 de julho de 2016.

Antes disso já tinha havido passos (a manifestação de interesse em adotar, em maio de 2016, a sessão A em junho de 2016), que ainda não contam para esse caminho «oficial», que eu pensava que só iria começar depois de sermos (se formos) habilitados, mas já conta para o nosso caminho emocional - aquele que eu pensava que estava a contar com o ticker.

Então, fiquei a saber que já estamos mesmo a caminho - um caminho que ainda pode ser interrompido, no caso de não nos aprovarem, mas que já é oficial, já «conta». E porquê? Porque seria injusto contar só a partir da habilitação, tendo em conta que há distritos onde o prazo definido por lei (6 meses) para a avaliação não é cumprido por sobrecarga dos técnicos. Ou seja, uma pessoa que entregou os papéis em janeiro, pode terminar a avaliação depois de outra que entregou os papéis em março, sem ter «culpa» desse atraso. Para não penalizar ninguém pelas lentidões do sistema, conta a partir do passo que efetivamente depende só de nós - a candidatura.
E de repente, a espera parece um pouco mais curta!
Oficialmente, quase 4 meses a caminho. Temos andado bem. E aliás, estou muito satisfeita com a Segurança Social de Braga: nesses quase 4 meses já temos 3 entrevistas feitas. YAY!

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Os ovos misteriosos

Eu sei que não devia, mas não resisti.
Acabo de encomendar o livro «Os ovos misteriosos»

É um livro infantil que conta a história de uma galinha que choca um conjunto de ovos misteriosos. Apesar de cada um, depois de chocar, dar origem a um animal diferente, ela ama e cuida de cada um deles.
Claro está, é um pretexto para falar sobre adoção.

Não devia, porque ainda nem sei se vamos ser aprovados.
Mas comprei, porque não resisti à campanha de 40% da wook. Shame on me.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

A caminhada e os outros



Esta caminhada da adoção é, em grande medida, um processo solitário, vivido muito cá dentro - dentro de cada um de nós e sobretudo dentro do casal.
Não quer dizer que não se comunique: com amigos, e até aqui, através deste blogue. Mas, tal como acontecia com a infertilidade, as pessoas realmente não fazem ideia do que isto é, a menos que tenham passado por lá. É um «mundo» e uma experiência difícil de partilhar, que estica as capacidades de empatia dos nossos amigos, colegas e conhecidos porque por mais que eles se importem connosco, não fazem realmente ideia do que estamos a passar. As pessoas com quem se consegue falar mais profundamente sobre a adoção são poucas e, no meu caso, acabam por ter alguma relação, mais direta ou mais indireta, com esse «mundo».

Resumindo: a comunicação sobre a adoção dentro do casal é muito intensa - fora do casal... depende.

E nesse contexto, os fóruns, blogues, sites e afins sobre adoção têm sido muito importantes para mim: dão uma noção mais concreta e real do que é adotar, na primeira pessoa, com todas as especificidades que um caso real tem. Dão cor e sentimento concreto e específico ao mundo mais genérico dos artigos e pesquisas científicas sobre o tema. Fazem sentido e falta.

No meu caso, tenho a sorte de conhecer outro casal que está a passar pelo mesmo. Um destes dias, fui ao aniversário dessa minha amiga, que me apresentou outro casal que também estava em processo de adoção. Uns e outros, já habilitados e com a formação terminada - ou seja, mais à frente do que nós nesta viagem. E é realmente diferente «ventilar» com quem sabe por dentro o que isto é. Cada processo é um processo, claro. Cada decisão é diferente, os contextos são diferentes, como tudo na vida. Mas há um denominador comum que ajuda a sentirmos que mais alguém «percebe», sem sentimentalismos, nem simplificações, o que isto é. E é útil partilhar experiências e ir percebendo o que nos espera no passo a seguir.

Boa caminhada a todos os que por aqui andam!

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Avaliação psicológica concluída

Então, lá tivemos a segunda e última sessão de avaliação psicológica. Nesta sessão, eu e o marido estivemos separados.
Enquanto um de nós preenchia uns questionários, o outro conversava com a psicóloga, e depois trocámos.
E então, do que se tratou, desta vez?
Os questionários eram de resposta aberta. Um deles apresentava 3 situações hipotéticas, com crianças de diferentes idades, que nos colocavam, enquanto pais, na necessidade de responder a desafios. Tínhamos que explicar como reagiríamos.
O outro era sobre a infertilidade e a forma como a tínhamos encarado no passado e como a encarávamos atualmente, a adoção, os desafios que ela traria em termos familiares e sociais.

A parte de conversa individual teve a ver com o casamento, a relação, como nos conhecemos, como resolvemos os problemas, etc. Por outro lado, com o que esperamos da parentalidade, como pensamos lidar com a revelação da adoção e com a eventual busca das origens.

E pronto - mais uma manhã passada. Resultados, ainda não conheço, mas acho que não correu mal.

Agora, não ficou nada marcado - ficamos à espera da cartinha que nos há de convocar para a sessão de formação B, que é em grupo, com outros casais, em princípio em Novembro.