quarta-feira, 29 de junho de 2016

Os números da adoção - uma reflexão muito particular


A análise dos números da adoção em Portugal acaba logo com alguns dos mitos sobre adoção. O primeiro: o de que há imensas crianças em instituições, à espera de serem adotadas. Não há. Na verdade há imensas crianças em instituições, à espera que o seu projeto de vida seja definido de vez. E isso dará azo a outro post.

O segundo - a ideia idílica do bebé recém-nascido que é entregue para adoção, que na verdade é praticamente um mito. E isto relaciona-se com a ideia acima. Porque até se chegar à decisão de determinar a adotabilidade daquelas crianças se espera, muitas vezes, anos, a maior parte das crianças adotáveis já são «demasiado velhas», pelos critérios da maior parte das pessoas que pretendem adotar.

E sim, também nós pertencemos ao extenso clube das pessoas que gostariam de adotar um bebé saudável (como qualquer casal gostaria, à partida de serem pais de um bebé saudável). Não temos critérios de raça nem de sexo. Mas ao olhar para os números, percebemos rapidamente que teremos pela frente uma espera interminável e que se e quando chegar a nossa vez, podemos ser demasiado velhos para sermos pais de um bebé. (By the way, fiquei surpreendida pelas idades da maior parte dos candidatos que foram connosco à formação. Nós éramos aparentemente dos mais novos, e mesmo assim já me estou a preocupar com esta questão!) Ainda estamos a definir entre nós a idade com que nos sentimos confortáveis, mas ambos preferíamos crianças pequeninas - porque ainda há tanto que se pode fazer em termos de intervenção precoce, porque estarão à partida menos marcadas pelo passado difícil que viveram (se assim não fosse não estariam em situação de adotabilidade) e por lealdades à família de origem que dificultam a vinculação, porque nunca fomos pais e gostaríamos de acompanhar esse processo desde o mais cedo possível.
Podem argumentar que as crianças mais velhas também precisam, ou precisam mais ainda, de pais e mães. Eu sei que sim. Mas este é um desafio descomunal. A parentalidade é sempre um grande desafio, e propormo-nos a um desafio que tem tudo para ser ainda maior é difícil e requer uma avaliação muito cuidadosa de quem somos, de quem poderemos ser como pais, e da nossa capacidade para lidar com essas adversidades. Não é algo que se deva fazer apenas na base da boa vontade. E com toda a honestidade, neste momento (ainda temos muito que refletir), não sei se somos as pessoas indicadas para dizer que sim a esse desafio.

Por outro lado, pertencemos ao clube não tão extenso das pessoas que gostariam de adotar irmãos. Bem sei que poderá ser difícil aparecerem dois irmãos pequeninos, mas é um critério preenchido por menos pessoas, até porque os critérios económicos também o dificultam. Isso dá-me alguma esperança de que haja um par de irmãos por aí, à nossa espera e que não demorem eternamente a chegar até nós.

Pessoas que adotaram/ estão a tentar adotar: como lidaram com os números? Como se posicionam face a eles?

3 comentários:

  1. Não adoptei, mas conheço quem tenha percorrido o árduo processo. É preciso de facto ter-se muitas surpresas, muita paciência, algum estofo para aguentar com a mesma coragem a espera, os relatórios, entrevistas e afins...os números não são de facto animadores, mas, tudo é possível :) Desejo-vos muita sorte.

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    1. Obrigada! Acabámos hoje de reunir a papelada toda e se tudo correr bem vou amanhã formalizar o processo :)

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  2. Coragem«, continuem e não desistam, acima de tudo não desistam, vivo de perto a realidade de crianças institucionalizadas que os progenitores não autorizam que vão para adopção, que não os visitam e que nãos querem, mas mesmo assim são egoístas e não assinam. Depois á casos de bebes abandonados no hospital e neste caso é mais fácil, assinam logo no hospital e á pouco tempo aconteceu com gémeos, até podes ter sorte e aparecerem uns para ti. Boa sorte e que a estrelinha dos bebes abandonados vos acompanhe.

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