quarta-feira, 4 de maio de 2011

Ainda «a revolução»

Tenho andando a pensar nisto da flexibilização laboral, numa perspectiva mais macro, e a reflectir sobre os muitos textos que se juntaram já a esta ideia.
Assalta-me uma preocupação. A de associar a flexibilização laboral/ o teletrabalho/ o trabalho a tempo parcial, a uma coisa de mães e de mulheres. Penso que isso seria um grande perigo para a igualdade de género.
Conheço pessoas que viveram e trabalharam na Alemanha, onde o cenário é mais ou menos esse. Há muitas oportunidades de trabalho a tempo parcial e noutros regimes flexíveis. Há muitas prestações sociais para quem quiser optar por esses regimes ou por ser mãe a tempo inteiro. O reverso dessa medalha é que as infraestruturas de apoio à família - creches, infantários, ATL's e afins - funcionam também eles em regime parcial e são escassos, tornando quase impossível às mães (porque são quase sempre as mães, e não os pais a assumir essa responsabilidade) a ser obrigadas a trabalhar em part-time ou a não trabalhar fora de casa. Isto, associado a uma percepção social muito negativa daquelas mães que podem optar por ter uma ama ou outro tipo de apoio e continuar a trabalhar a tempo inteiro, que são apelidadas de «mães corvo» de forma pejorativa.
Ora, este cenário é, na minha opinião, de grande retrocesso em termos sociais.
Sou a favor de uma flexibilização que permita a todos, mães e pais, mas também qualquer pessoa que esteja interessada nessa via, conciliar a vida pessoal e familiar e o trabalho em regimes de trabalho mais abertos. Mas considero que deve ser essa a apresentação do problema - como um problema humano - e não como um problema das mulheres ou das mães. Não só porque não são apenas as mães que necessitam de ter espaço para a sua vida pessoal e familiar, mas também para combater uma imagem do trabalho flexível como algo secundário, e como uma via de afastamento das mulheres da vida laboral. Sem esquecer que estas vias devem, no meu entender, ser passíveis de ser escolhidas por todos, mas não «impostas» a nenhum grupo em particular, permitindo assim a verdadeira flexibilidade que reside na possibilidade de escolha do regime que melhor convém a cada um e a cada uma, e claro, às empresas e ao País.
Acredito, que, numa fase de crise económica como aquela que atravessamos, estas vias são um alternativa favorável ao país.
Mais trabalho parcial significa menos desemprego. Mais trabalho a partir de casa, significa menos custos logísticos para as empresas - garanto que o que a instituição para a qual trabalho deve poupar anualmente no que não gasta em aluguer de espaços, contas de água, luz e consumíveis que cada um e cada uma de nós, que trabalhamos a maioria dos dias em casa não gastamos, um valor muito considerável, que poderá inclusivamente traduzir-se em mais pessoas empregadas. Pessoas que perdem menos tempo nos transportes e que passam mais tempo a cuidar das suas famílias e vidas pessoais, são pessoas mais felizes e produtivas, e pessoas que contribuem indirectamente para o progresso social - seja pela educação dos filhos, seja por outras formas de intervenção social e voluntariado.
Isto é vantajoso para a sociedade, para as empresas e para os trabalhadores, sejam eles mães ou pais, ou nenhum dos dois. Se quiserem, claro está.

2 comentários:

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