quinta-feira, 27 de abril de 2017

36

Fiz, por estes dias (já alguns, o tempo passa depressa), 36 anos.

Fez nesse dia exatamente um ano que fiz a transferência de embriões. Foi um aniversário bem diferente deste.
Passou mais um ano, sem notícias do hospital.
Passou mais um ano, e para quem é infértil e passou a barreira biológica dos 35, um ano é uma eternidade.
Passou mais um ano... e não me atrevo a ligar para saber se se perdeu alguma carta ou não nos chamaram mesmo. E não sei se quero que nos chamem. Não sei se quero saber. Não sei se quero voltar a passar por tudo outra vez. E não ser chamada é uma forma de adiar a decisão. De decidir não decidir.
Fechar portas é duro.
E neste ano, o processo já é outro, e também esse é lento e sem respostas. Entramos na fase do silêncio. Terminadas as avaliações, só silêncio e espera.

Estamos à espera.
À espera de uma carta.
À espera de um telefonema.

Há outras coisas, entretanto, na espera. Não há apenas vazio e silêncio. Há trabalho, e vida, e stress, e família, e casa e as coisas do costume. Muitas coisas. Mas não deixa de haver a espera, o vazio, o silêncio, preenchido de muita coisa.